sexta-feira, 15 de abril de 2011

Quantas vezes, amor, te amei sem te ver e talvez... (Pablo Neruda - 1904-1973)

Quantas vezes, amor, te amei sem te ver e talvez sem me lembrar,
sem reconhecer teu olhar, sem olhar-te, centáurea,
em regiões hostis, num meio-dia ardente:
tu eras só o aroma dos cereais que amo.

Vi-te talvez, imaginei-te ao passar erguendo uma taça
em Angol, à luz da lua de Junho,
ou eras tu a cintura daquela guitarra
que toquei nas trevas e soou como o mar desmedido.

Amei-te sem o saber, e procurei a tua memória.
Nas casas vazias entrei com a lanterna para roubar o teu retrato.
Mas eu já sabia como eras. De repente

enquanto ias comigo toquei-te e a minha vida parou:
estavas diante de mim, reinando sobre mim, e ainda reinas,
Como fogueira nos bosques, o fogo é o teu reino.

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