domingo, 24 de abril de 2011

Pregão turístico do Recife (João Cabral de Melo Neto - 1920-1999)

Aqui o mar é uma montanha
regular redonda e azul,
mais alta que os arrecifes
e os mangues rasos ao sul.

Do mar podeis extrair,
do mar deste litoral,
um fio de luz precisa,
matemática ou metal.

Na cidade propriamente
velhos sobrados esguios
apertam ombros calcários
de cada lado de um rio.

Com os sobrados podeis
aprender lição madura:
um certo equilíbrio leve,
na escrita, da arquitetura.

E neste rio indigente,
sangue-lama que circula
entre cimento e esclerose
com sua macha quase nula,

e na gente que se estagna
nas mucosas deste rio,
morrendo de aprodecer
vidas inteiras a fio,

podeis aprender que o homem
é sempre a melhor medida.
Mais: que a medida do homem
não é a morte mas a vida.

2 comentários:

  1. não é a morte mas a vida.

    :)

    boa páscoa!

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  2. Nossa, Andressa, também achei lindo esse final! Não conhecia esse poema do João Cabral, mas já posso dizer que amo tudo o que ele fez! Boa páscoa também...

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